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Bíblia: livro número um, não!


Quando se diz que a bíblia é o livro n°1, não se alcança toda a verdade. O certo é declarar a bíblia único livro; porque todos os demais foram escritos, publicados e guardados na gaveta. E não passam de ilustrações, variações ou contratações de sua coleção de textos. A bíblia é onde há de tudo; todos os conflitos entre povos, todas as guerras declaradas ou imagináveis, todas as explosões de amor, todo o repertório de crimes, todas as formas de poesia, inclusive e principalmente as mais bofejadas de mistério, todos os castigos infernais e todas as misérias humanas, toda a política, todo mecanismo de poder; não falta nada nessas páginas que depois foram sendo repetidas, imitadas e plagiadas com menor ou maior habilidade. Mas quem gosta de beber na fonte, já sabe: vai à bíblia e sacia-se.

Gosto mais da bíblia do que das novelas de TV e das novidades bibliográficas. Por isso, estou lá constantemente com Moisés, Davi, Salomão, Jó, os Apóstolos, as epístolas, o apocalipse, o infinito romance, a infinita cartilha de exemplos, conselhos, ameaças, desgraças, júbilo, enredos, cerimonial de sacrifícios, sexologia, magia...

A bíblia é crônica do passado? Não. História intemporal, ou de todos os tempos, lugares, culturas e costumes. É abrir em qualquer página e meditar. Sempre saímos satisfeitos ou confortados.


Carlos Drummond de Andrade

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