A relação entre Deus e o
mundo é uma relação entre criador e criatura, de tal forma que Deus é
causa suprema, a causa primeira de todas as coisas.
É nesses termos que raciocina Tomás de Aquino, para afirmar que a existência
de Deus pode ser demonstrada:
"Visto que acerca de qualquer efeito se pode demonstrar que existe a
sua causa própria de tal modo que os ditos efeitos nos sejam mais bem
conhecidos do que a causa; porque, posto o efeito, necessariamente
preexiste a causa: por conseguinte a existência de Deus , que, relativamente a
nós, não é evidente por si mesma, pode ser-nos demonstrável pelos efeitos que
d'Ele conhecemos". (Suma Teológica)
Vimos que nossa percepção do mundo descobre-o como em constante mudança, e
que essa mudança é ordenada. Ora, qual a única forma de existir essa ordem no
mundo? É que todas as mudanças têm uma causa. Quando vemos uma flor, sabemos
que sua causa primeira é a semente, isto é, que a existência da flor depende da
semente que gerou a árvore. É apenas por isso que compreendemos a existência da
flor: sabemos de sua causa.
Assim a existência de qualquer coisa só é compreensível para nós, na medida
em que conhecemos sua causa. Não nos espantamos quando chove. Por quê? Porque
vimos as nuvens que deram origem à chuva.
Isto posto, verifica-se que Tomás tem razão tem razão quando afirma que a
existência de Deus pode ser demonstrada "pelos efeitos que d'Ele
conhecemos". Os efeitos que d'Ele conhecemos são todas as coisas do mundo
e a ordem e harmonia que as envolve. Pode-se perguntar: qual é a causa dessa
ordem e harmonia? E a resposta é evidente: "Deus, o ser dos seres, a causa
das causas, o fim dos fins: eis como Ele é o verdadeiro absoluto", como
disse o filósofo francês Vacherot.
Portanto, Deus é um ser superior, eterno (pois é a causa das causas, a causa
suprema) e necessário. Pois que a existência do mundo não pode ser compreendida
sem sua existência. Como disse o filósofo Espinosa: "Tudo o que existe,
existe em Deus, e sem Deus nada pode ser concebido"".
Mas é preciso acrescentar que se a existência de Deus pode ser demonstrada
intelectualmente, há também uma outra forma de chegar até Ele: pelos
sentimentos, pela fé, o que, segundo alguns autores, é uma forma muito mais
importante que a intelectual.
"É o coração que sente Deus, não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível
ao coração, não à razão", disse Pascal.
A fé é a crença, a secreta união que se estabelece entre a criatura e o
criador. Para além de explicação intelectual, as pessoas sentem a presença de
Deus, como está muito melhor descrito nesses versos (como se sabe os poetas
capitão sentimentos que não conseguimos exprimir com palavras):
"Ah! não devo chorar. Além do mundo
Eu vejo o céu, vejo o infinito, o imenso
É o trono sem fim de Deus eterno,
Não chorarei, que essa terrena vida
É um crisol que as sensações apura,
Para chegar a Deus mais casto o espírito.
(Junqueira Freire)
E este pequeno poema de Álvares de Azevedo fala da necessidade de crer-se em
Deus:
"E contudo parece desvario
Blasfêmia atroz o cântico atrevido
Que rugem os ateus;
Sem a sombra de Deus é tão vazio
O mundo - Cemitério envilecido!...
Oh! Creiamos em Deus.”
Em resumo, conclui-se que há duas formas de chegar a Deus: pelo raciocínio
ou inteligência e pela fé ou crença.
Mais é preciso acrescentar que uma forma não exclui a outra. Na verdade, as
duas formas são igualmente válidas e necessárias. É preciso crer em Deus para poder
entendê-lo assim como é preciso entender a existência de Deus para crer n'Ele.
Isso do ponto de vista filosófico. Porque do ponto de vista exclusivamente
religioso, a crença em Deus, a fé, é absolutamente prioritária.